sábado, 13 de outubro de 2012

CHRIS CARTER: GÊNIO OU SORTUDO


O último episódio de "Twin Peaks" foi ao ar em 10 de junho de 1991. Série criada por Mark Frost e David Lynch, causou furor na TV americana com suas esquisitices e a famosa pergunta "Quem matou Laura Palmer?". Foi um enorme fenômeno, mas após seu término (na fraca segunda temporada), o gênero bizarrices/suspense caiu no ostracismo absoluto.

Foi então que um surfista californiano chamado Chris Carter, inspirado pela série "Kolchak e os demônios da noite", criou o maior fenômeno televisivo dos anos 90: "Arquivo X" ("The X Files" e "Ficheiros Secretos", em Portugal). Para se ter uma ideia, em todas as listas dos melhores seriados de todos os tempos, "Arquivo X" está sempre presente. Vamos aos números: na lista dos 100 melhores seriados da revista Monet (distribuída aos assinantes da Net), a série está em 13º lugar. Quando a revista britânica Empire elegeu os 50 melhores seriados, "Arquivo X" ocupou a 9ª posição. O episódio mais assistido da série, de sua quarta temporada, foi acompanhado pelo impressionante número de 30 milhões de telespectadores.

Inicialmente, anunciou-se que "Arquivo X" terminaria em torno de sua quinta temporada. Esse prazo estendeu-se então para o 7º, 8º e finalmente, 9º e último ano de produção do programa, principalmente devido ao fato de Chris Carter não conseguir emplacar outro sucesso para a Fox. Chris Carter criou, no total, três seriados, e Arquivo X, finalizado após nove anos no ar, continuou como seu maior sucesso. 

Dentre todos os mistérios, conspirações e perguntas lançados nas tramas de seus seriados, o que realmente fica sem explicação é: como suas séries, tão inteligentes, bem escritas e bem produzidas, não tiveram boa aceitação do público? 

Arquivo X (1993 - 2002)
Dana Scully, formada em medicina e agente do FBI, é designada à misteriosa divisão da agência de investigação chamada "Arquivo X", cujo objetivo é resolver casos dados como sobrenaturais e que ficaram em aberto por falta de evidências. Conhece Fox Mulder, agente obcecado por essas investigações após ter presenciado a abdução de sua irmã. O papel de Scully é descredenciar as afirmações sobrenaturais de Mulder e provar, à luz da ciência, que tudo pode ser explicado. A natureza oposta dos protagonistas - o crente e a incrédula, a fé e a religião, a imaginação e a razão - cria uma excelente química entre os personagens que, aliada ao fato dos produtores não se preocuparem (inicialmente) em investir no romance, faz com que o seriado se torne um sucesso absoluto. A série ainda rendeu dois longas no cinema (e pode ter certeza que um terceiro surgirá) e sua música tema já entrou para a lista de temas clássicos da cultura pop. A série ficou famosa pelas suas frases de impacto ("A verdade está lá fora", "Não confie em ninguém", "Eu quero acreditar")  e por símbolos que seus roteiristas colocavam em episódios: horas e códigos numéricos recorrentes em seus episódios. Tudo para brincar com o telespectador. Outra característica da série é que seus produtores não tinham medo de matar personagens; claro que sabíamos que os protagonistas jamais morreriam, mas todos os outros estavam em cheque - como aprendemos, surpresos, no final da primeira temporada. "Arquivo X" também foi pioneiro na internet: por ter surgido no momento que a internet começava a ser utilizada pelo grande público, foi um dos primeiros seriados a acalentar fóruns de discussões, salas de bate papo e a criar comunidades online de fãs que, logo após a exibição de um episódio, enchiam a rede de comentários e teorias. Isso tudo pode parecer muito normal hoje, mas imagine isso há quase vinte anos...



Millennium (1996 - 1999)
Frank Black, ex-agente do FBI tem um dom (ou maldição): ele é capaz de ver flashes do que o assassino viu ou fez na cena de um crime. Frank é contatado por um misterioso grupo (o Millennium do título) que tem como objetivo lutar contra o mal e preparar a humanidade para a passagem do milênio. Uma espécia de "O Silêncio dos Inocentes", o seriado tratava semanalmente de crimes brutais, discussões religiosas e da eterna batalha entre o bem e o mal (aqui, de uma forma mais explícita, mencionando demônios, anjos, salvação de almas, passagens religiosas etc). Um seriado muito mais denso e sombrio que "Arquivo X": seus episódios eram sempre iniciados com trechos bíblicos, sua abertura trazia mensagens como "O fim está próximo", "Desespere-se", "A hora é agora", os casos investigados incluíam pais que matavam ou abusavam de seus filhos, professores que abusavam de seus alunos, e muitos, muitos, psicopatas. Após uma primeira temporada de sucesso, precisou ser amenizado para ter uma maior aceitação pelo público geral. Apesar de muito elogiado, sua seriedade e obscuridade fizeram com que a série fosse cancelada em seu terceiro ano. Melhor assim, pois apesar do fim prematuro, os episódio mantiveram um nível de qualidade até seu episódio final.



Harsh Realm (1999)
O tenente americano Thomas Hobbes  estava prestes a se aposentar quando é chamado para uma última missão: entrar no programa virtual de treinamento de guerra chamado "Harsh Realm" e capturar Santiago, um sargento que se escondeu dentro da simulação quando descobriu que poderia dominar todo aquele mundo virtual e, a partir de lá, influenciar o mundo real. Hobbes acaba ficando preso dentro de Harsh Realm, e, junto a outros ex-soldados fugitivos, tenta derrotar Santiago e escapar do mundo virtual. A série, embora muito bem produzida e muito bem escrita, foi cancelada abruptamente após a exibição de apenas três episódios devido a baixos índices de audiência. O canal pago americano FX comprou os direitos para exibir os 9 episódios que já estavam prontos e a série ainda ganhou fôlego, embora breve, no lançamento de um box com os episódios produzidos. 





segunda-feira, 1 de outubro de 2012

NOVE SÉRIE: REVOLUTION

Nova série de J. J. Abrams estreia e a dúvida surge: novo Lost ou novo fiasco?



J. J. Abrams sofre da mesma síndrome que Chris Carter: entrou para o triste grupo dos criadores de seriados que, após um excelente trabalho, não conseguem emplacar um segundo sucesso. Claro, que no caso do sr. Abrams, a coisa não foi assim tão repentina. Sua primeira série foi "Felicity" (1998 - 2002): drama adolescente sobre jovem que após finalizar o colegial baseia em seus hormônios sua decisão sobre qual faculdade frequentar - ela escolhe a mesma universidade para a qual seu interesse vai. A série fez sucesso e abriu caminho para "Alias" (série de ação, cheia de reviravoltas e que, devido ao sucesso, contou com presenças ilustres como a de Tarantino, que escreveu e atuou em dois episódios). "Alias" (2001 - 2006) durou cinco anos, e quando estava começando a cambalear (por volta da quarta temporada), J. J. engatou "Lost" (2004 - 2010). Sucesso absoluto que durou 6 temporadas, gerando polêmicas por tantos mistérios e poucas respostas (ele não aprendeu com o erro de Chris Carter). 

Após o término de "Lost", sua carreira televisiva entrou em declínio: "Fringe" (2008 - 2013), sobre uma divisão especial do governo que investiga casos ligados à ciência de borda, está em seu quinto e derradeiro ano e oscila entre renovação e cancelamento desde a segunda temporada. "Alcatraz", thriller policial sobre o desaparecimento de todos os presos da famosa prisão e seu retorno, décadas mais tarde com a mesma aparência, não sobreviveu a uma temporada completa. "Undercovers" (2011) trazia um casal aposentado da CIA que decide voltar à ativa por sentir falta da adrenalina; cancelado sem ao menos terminar sua primeira temporada. A única série pós-Lost que rendeu bons frutos foi "Person of interest": sobre um milionário que desenvolve um software capaz de prever a identidade de pessoas relacionadas a crimes hediondos sem, no entanto, revelar se a pessoa será vítima, agressor ou testemunha. Cabe aos personagens principais descobrir e impedir o crime. Série redondinha, mas sem o apelo nerd de "Lost".

"Revolution" é mais uma tentativa do produtor/diretor/roteirista de alcançar o mesmo status que teve seu maior fenômeno. O piloto nos relembra sobre como dependemos da eletricidade para tudo: comunicação, transporte, hobbies etc. Em uma noite, aparentemente sem motivo algum, perdemos a energia elétrica. Não só ficamos sem luz, mas nada mais que gera energia funciona: carros, aviões, pilhas... Repentinamente as luzes se apagam, os carros param, os aviões caem. Corte para 15 anos mais tarde, numa sociedade sem governo, controlada por milícias, onde as pessoas fugiram dos centros populosos e se reclusaram em pequenas vilas e cidadezinhas. Você não tem como se comunicar com seus familiares e amigos pois não há telefones, celulares, computadores. Todas as memórias de sua vida, que você tão cuidadosamente deixou em um CD, pen drive ou mesmo no Iphone, não são mais acessíveis. Isso sem mencionar as implicações nas áreas da saúde, alimentação, economia e por aí vai.

Os mistérios da série giram em torno do motivo do apagão ter ocorrido, do pen drive que Miles Matheson (o pai da personagem principal) conseguiu salvar com dados importantes segundos antes do apagão e da misteriosa personagem que possui eletricidade em sua casa e que se comunica com outra pessoa pelo computador.

Alguns fatores limitam um pouco o seriado, como o fato da personagem principal ser muito jovem e imatura para ter apelo aos adultos e a questão da produção investir em um romance "proibido" entre ela e um jovem soldado da milícia. Por outro lado, a premissa é interessante e os dois primeiros episódios mostraram um cuidado especial da produção.

Agora só uma observação: enquanto fazia esse post, a energia caiu umas cinco vezes. Será? :)