sábado, 23 de junho de 2012

HQ... VOCÊ SABE POR QUÊ?

O que devemos saber sobre as histórias em quadrinhos e o por quê da arte merecer mais atenção.



As histórias em quadrinhos muitas vezes são vistas apenas como histórias infantis. Devido à popularização de títulos voltados para o público infanto-juvenil (como Turma da Mônica, Tio Patinhas e etc), esse mercado editorial passou a ser considerado a própria alma dos quadrinhos. Precisamos então, primeiramente, levar em consideração que essas obras representam apenas um segmento do gênero HQ.

Vou abrir um parenteses rapidinho aqui só para relembrar que no Brasil o termo gibi é usado como "sinônimo" para histórias em quadrinhos. Lançada em 1939, "Gibi" era uma revista brasileira do Grupo Globo voltada para a publicação de história em quadrinhos.

Antes de julgar seu amigo que gosta de ler gibis (ou: quando seu amigo te ridicularizar porque você lê gibi)  vale apontar que o gênero é uma das mais completas formas de linguagens por desenvolver três eixos: a imagem, o texto e a organização espacial dos quadros ilustrados. Esses eixos estão intrinsecamente ligados à teoria das múltiplas inteligências de Howard Gardner. Afinal, ao produzir uma história em quadrinhos é necessário a habilidade para convencer, agradar, estimular e transmitir ideias - inteligência linguística - assim como a capacidade de perceber o mundo visual e espacial de forma precisa. - inteligência espacial. Ainda temos o fato de que as ilustrações exigem domínio artísticos de diferentes estilos (realistas, cartunescos e etc). Esse conjunto de artes interligadas faz com que seja atípico encontrarmos artistas responsáveis por todas elas ao criar uma HQ - geralmente, um faz a arte, o outro o roteiro e assim por diante. É também essa pluralidade de habilidades artísticas que coloca as HQ's como a  9ª arte. Nona porque ela precisa de elementos de três artes anteriores: cor (da 3ª arte, a pintura), palavra (da 6ª arte, a literatura) e a imagem (da 8ª arte, a fotografia).

Um aspecto relevante a ser apontado é a importância do quadrinho na alfabetização. Quantos de vocês não deram os primeiros passos de leitura e interpretação de texto com os quadrinhos do Maurício de Souza (ou, os mais novos, com os mangás)? A realidade é que os gibis não diferem em nada dos livros infantis e todos sabemos a importância destes para a alfabetização nos primeiros anos escolares. O The Guardian criou um quadro interativo com as 100 pessoas que mais influenciam o hábito da leitura no Reino Unido. Dentre eles, dois dos maiores autores de HQ se destacam: Alan Moore (Wacthmen e V de Vingança) e Neil Gaiman (cujo trabalho mais conhecido é a série Sandman)

Mais recentemente, as HQ's também têm influenciado muito o cinema - não por simplesmente proverem vários enredos de super heróis para adaptações, mas por impor um desafio à 7ª arte: é possível representar os movimentos do Homem Aranha nas telas? Dá para transmitir a estética de The Spirit para a telona? Assim, as linhas cinéticas (que indicam os movimentos das personagens) foram estampadas na tela como uma edição mais rápida e acelerada (vamos lembrar o Aranha pulando de prédio em prédio novamente?) e no processo de adaptação da linguagem quadrinista para a cinematográfica, o cinema cresce também. O gênero ainda ganhou espaço em meios de comunicação que, na ausência de atores, inspiram-se nas histórias em quadrinhos para anunciar e até mesmo reconstituir crimes ou eventos, um recurso muito usado em telejornais atualmente.

Outro ponto crucial nas HQ's é que elãs são uma arte "cool" que desempenha um papel crítico e social, que no Brasil começou a assumir esse papel com a repressão militar na década de 70. Atualmente, as HQ's são consideradas o casamento da literatura com a arte, possibilitando não apenas um texto engajado como imagens críticas.  

É claro que as HQ's têm seus representantes com apelo mais popular, mas assim como em toda arte, estes servem de portas para uma viagem mais intensa no mundo dos quadrinhos.  

"O paradoxal e o incompreensível não morrem, se encarados com alegria. Só se morre 
de tédio. E felizmente as histórias em quadrinhos estão distante dele".
(Frederico Fellini)

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